Com certeza você já assistiu a um filme e ficou com uma voz presa na memória porque ela mexeu com as suas emoções ou porque queria descobrir o dono daquele som. Criar a interpretação vocal de um personagem é comum nas animações, mas os filmes “de carne e osso” também têm uma galeria de vozes famosas em os atores sequer aparecerem na tela.
Samantha, em “Ela”
No caso mais recente da nossa lista, a voz sexy da atriz Scarlett Johanson dá vida ao sistema operacional Samantha que conquista o coração do protagonista Joaquin Phoenix no novo filme do diretor Spike Jonze. Uma interpretação com tanta vivacidade que rendeu a Scarlett o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Roma, mas a colocou em uma grande polêmica ao ser desqualificada do Globo de Ouro. De acordo com as regras da premiação, o fato de a atriz não aparecer na tela nem por um segundo tornou seu papel inelegível.
HAL 9000, em “2001 – Uma odisseia no espaço”
Se um dia as máquinas se virarem contra o homem graças à inteligência artificial, o maior medo dos cinéfilos é que elas ajam como o HAL 9000 de “2001 – Uma odisseia no espaço”. Muito desse temor vem da personalidade sádica, fria e dissimulada presente na voz do canadense Douglas Rain. Ator com várias montagens de Shakespeare no currículo, Rain escondeu as más intenções do supercomputador com uma falsa gentileza sem qualquer vestígio de sentimentos. O resultado é que HAL é o maior destaque na filmografia do ator, que retomou o personagem no filme “2010 – O ano em que faremos contato”, de 1984.
J.A.R.V.I.S., na trilogia “Homem de Ferro”
Outro sistema operacional famoso é o escudeiro do magnata Tony Stark. O dono da voz é o ator Paul Bettany, mundialmente conhecido como o assassino albino Silas, de “O Código Da Vinci”. Apesar de estar em uma das trilogias mais rentáveis da Marvel e no sucesso “Os Vingadores”, Bettany já afirmou em entrevistas que nunca assistiu aos filmes. Segundo ele, o trabalho de dublar J.A.R.V.I.S é realizado após as filmagens, dura cerca de duas horas e ele não sabe sequer a história inteira dos filmes, pois recebe um papel com as falas e não o roteiro completo. Um jeito fácil de embolsar alguns milhões de dólares, não é?
Darth Vader, em “Star Wars”
Apesar de ser vivido pelo ator britânico David Prowse, que vestiu o figurino, fez as cenas de ação e interpretou todos os diálogos nas filmagens, o maior vilão das galáxias tem a voz do ator americano James Earl Jones. A dublagem ocorreu porque George Lucas considerava o sotaque de Prowse muito forte e o ator só descobriu a troca na noite de estreia! Como não era a pessoa na tela, Jones pediu para não ser creditado nos dois primeiros filmes, pois considerava a dublagem um efeito especial, e não um trabalho de interpretação. No entanto, ele mudou de ideia no terceiro filme e seu nome passou a aparecer em todas as produções a partir do relançamentos de 1997.
Ghostface , na quadrilogia “Pânico”
Se a franquia de Wes Craven mudou o cinema de terror dos anos 90, o dublador Roger L. Jackson tem uma parcela de responsabilidade. A ideia era que ele dublasse o serial killer Ghostface apenas na pós-produção do primeiro filme, mas o diretor gostou tanto de sua interpretação que o incorporou à rotina de filmagem. Para dar realismo às cenas, Jackson conversava de verdade com os personagens por telefone. Só que este era o único contato que ele tinha com a equipe! O dublador era proibido de conhecer os atores para que eles não associassem sua voz a uma pessoa e sempre tivessem medo deste assassino sem rosto. Diabólico, não?
O Liquidificador, em “Reflexões de um liquidificador”
O representante brasileiro nesta lista é o onipresente Selton Mello, que dá vida a um eletrodoméstico nesta comédia de humor negro de 2010. Narrador da história e espécie de consciência da protagonista Elvira, o liquidificador é quem dá o tom surreal ao roteiro. É uma pena, no entanto, que os anos de experiência de Selton como dublador não acrescentem nenhuma característica marcante à voz do liquidificador, que soa tagarela e cínico como tantos outros personagens de sua carreira.
(Publicado originalmente em 19/02/2014, no site Salada de Cinema)